Mas
a primavera chegou quente, insuportavelmente consumidora, feito às labaredas
que margeiam a estrada que me leva para casa.
Há
ainda a vegetação tisnada que se abriga do tempo em vestes pastéis de
exuberância estática à espera da chuva. Eu também a espero ao abrigo do sol,
mas não me impaciento. Sei que ela virá, seja em nuvens grises que gestam sobre
a cidade serrana, seja em torrentes formadas na última hora, que escapariam do
céu a pancadas e fariam grande estrago na terra revolta pelo vento árido.
É
época de florir e já aguei meu coração nos últimos contatos. Ontem arranquei
algumas cascas que prendiam minhas sementes e este texto é da primeira florada.
No entanto há ainda outras, mais resistentes. Resilientes. E é preciso água
límpida para amolecê-las.
Na
verdade, a primavera é uma grande interseção de possibilidades, mas me falta
tato, jeito de lidar com elas. Quais se devem tornar objetivos? – É bem disto
que trato: quais sementes deixarei florir? Algumas precisam ser jogadas fora (para
alimentar outros animais), pois a messe de todas é parca e não dá para
alimentar sonhos.
Sendo todas semeadas, as flores serão raquíticas e não
encherão muitos sorrisos. Quais escolher? Com a chuva seria mais fácil. Todavia
esta passa ao longe, para lá de quaisquer realizações. Não peço aos céus luz; ela
sempre me foi dada. Peço chuva para continuara a florescer.
Um comentário:
Ah, J.! Aqui chove quase sempre, e das flores não logro sorrisos mais sinceros. Folgue! A vida ainda é bela por ser sua, só sua...
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