terça-feira, 16 de julho de 2013

É porque há horas em que se quer gritar pro nosso reflexo: Desajustado! Desajustado!

"Conheço-lhe os males, meu amigo, e reconheço a oportunidade de suas considerações.

Após o surgimento da sublime luz da crença em sua alma, parece-lhe a paz um mito distante. “Meu coração ganhou fé – assevera-se você –, mas perdeu a tranquilidade.” A palestra inteligente de preciosos amigos não acende em seu espírito o interesse de outro tempo. Se falam de economia, lembra você o serviço imenso de Jesus no setor da repartição dos bens terrestres; se comentam a política, você recorda o programa do Cristo nas atividades do amor ao próximo. Quando a Ciência, a Arte e a Literatura não sintonizam com as suas aspirações presentes, doloroso tédio invade-lhe o coração. Tolera as conversações sem movimentá-las e é com esforço que, muita vez, acompanha os comentários da vida e do mundo no círculo dos parentes, aos quais deve o tesouro dos júbilos familiares.

A espiritualidade superior é, agora, sua preocupação dominante. Em muitas ocasiões, assemelha-se ao homem de um velho conto, de minha meninice, perdido em gruta escura e selvagem, procurando acesso ao oxigênio leve do campo.

Antigamente, o mundo materializado fascinava-lhe os olhos. Era preciso correr na conquista de conhecimentos e vantagens, instalar a personalidade na galeria da evidência social e política e adaptar-se às dominações do momento, a fim de atender aos imperativos da existência terrestre. Mas, depois... Uma luz forte colheu-lhe a mente na estrada. Deslumbrado a princípio, você acreditou que era mais uma lâmpada festiva, no castelo das sensações; no entanto, aos poucos, reconheceu que não se tratava de uma claridade como as outras. Porque você tratou sempre os problemas da vida alimentando o firme desejo de acertar, encontrou a luz elevados recursos em sua sinceridade, e penetrou seu país interior, devagarinho, iluminando-lhe a consciência. Desde então, nasceu novo entendimento em sua alma. Transformaram-se as paisagens internas e externas. Muitos quadros que lhe pareciam grandiosos, tornaram-se insignificantes. Situações invejáveis, que noutra época seduziam seu coração, constituem hoje zonas escuras de que você foge naturalmente amedrontado. Vantagens converteram-se em perigos, conquistas em responsabilidades, e muitos ganhos que se lhe figuravam indispensáveis na tabela de aquisições do mundo representam agora para você derrotas e perdas, que é necessário evitar em benefício de sua própria felicidade.

Desajustado! Desajustado!

Seu pensamento repete essa definição todos os dias e seus velhos afeiçoados renovam a mesma observação. Debalde, procuram nos seus gestos, atitudes e palavras o homem que você já foi. Alguns afirmam que a velhice prematura se assenhoreou de seus dias; exclamam outros que a experiência religiosa lhe embotou o raciocínio. Você mesmo, em momentos de prova mais áspera, se esforça inutilmente por tornar ao passado. Todavia, não é mais possível o caminho de regresso. A verdade domina a fantasia e você é compelido a permanecer na mesma posição de deslocamento espiritual.


Desajustado! Desajustado!"

Irmão X