à Mãe Helena
Foi
devastador saber que não mais veria sua rede armada ao lado da cama, nem seu
vestido dobrado sobre a cômoda a cada noite quando eu fosse dormir.
Foi
devastador perceber que você não estaria sentada à porta todo fim da tarde,
esperando pela nossa conversa de como seria o futuro de logo mais.
Devastador
lembrar que o som da máquina de costura iria preencher aquela casa, agora que
não é mais necessário elevar o tom da voz ou aumentar o volume da tv para que
ele escutasse.
Devastador
por eu não mais sussurrar algo enquanto você, lia seu salmo diário ou fazia
suas orações pedindo saúde para a família, emprego para os netos, força para
aguentar as muitas dores de seu corpo cansado.
É
devastador por eu saber que não a encontraria com suas revistas de caça-palavras
a distrair sua mente das preocupações cotidianas.
É
devastador por não ser mais preciso acompanhá-la em sua solidão, após a partida
dele.
A
devastação, por as visitas de suas irmãs àquela casa não mais ser algo leve e
descontraído.
E
esta devastação foi tamanha que, por alguns dias, eu temi não suportar viver
naquela casa grande e que há pouco era tão cheia de vida...
Mas
após a devastação há sempre um recomeço – isso é tão certo quanto suas
previsões de chuva; certo quanto sua teimosia em não ficar parada – e nesse
recomeço, percebo que a vida ainda está naquela casa, em cada lembrança que ela
nos traz, a mim e a todos que com você conviveram.
A
casa permanecerá aberta, como aberta era sua mente para as coisas do mundo;
permanecerá de pé, da maneira que você lidava com as dificuldades; e
acolhedora, como você foi a todos aqueles que lhe procuravam à espera de um
conselho ou palavra amiga.
Sua
ausência naquela casa é aterradora, a saudade asfixiante, mas a esperança de um
reencontro e a gratidão por ter feito parte de minha vida me dão força para
prosseguir.