terça-feira, 21 de julho de 2009

Sem pressa

Era mais uma festa, quer dizer, era a primeira festa daquelas que ele iria; mas não estava ansioso, estava contente. Fora surpreendido na última semana com diversas propostas de pessoas quaisquer, e ainda estava assimilando eventos anteriores. Estava sutilmente diferente, contudo ainda era o mesmo: perdera apenas a pressa. O rio agora corria mansamente e ele permanecia calmo. Permaneceria adulto, puerilmente maduro e des-esperando acontecimentos programados.


Lábios encostavam-se, risos fugiam de conversas etílicas, e ele, com sóbrios olhos infantis engastados numa recente maturescência, assistia às faces andróginas que se mesclavam e ofegavam testosterona entre suspiros. Há certo momento, também ele quis participar do festim (algo se apressara dentro de seu ser) e virilmente agarrou bocas... virilmente sua boca foi agarrada... placidamente estampava-se um sorriso orgulhoso em seu rosto.


Então se deixou surpreender, pela primeira vez desapressadamente, em cenas próprias.


Um olhar fugaz chamou-lhe a atenção; quando este encontrou seu olhar (também fugaz), ambos miraram-se e tornaram-se límpidos. Assim, a cada espiadela, sorrisos convidativos foram se formando e uma alegria foi tomando de conta dos três metros que retardavam o encontro. Vencida a distância, uma apresentação pessoal formalizou o contato. Não havia pressa. O desejo palpitava naqueles olhares e bocas cadenciadamente próximos e finalmente juntos numa fragrante e amadeirada sintonia.


Sem pressa, vigorosos beijos foram se elaborando entre os lábios. Sem pressa, suaves carícias iniciaram a experimentação daqueles corpos. Sem pressa, uma descontraída conversa foi sendo construída e quando perceberam já estavam irremediavelmente envolvidos.


O tempo não passava, mas não havia pressa. Ele já não precisava acelerar as coisas, encaminhar-se-iam naturalmente, fluidamente, nas correntes do rio que já não prendia seu olhar àquele, mas os tornavam livres e desejosamente à procura um do outro.


Ele se deixou experimentar a liberdade em companhia... sem pressa; e descobriu que não há paradoxo em ser livre e estar acompanhado. Alguma coisa lhe pergunta: “seria o amor?”, mas ele não tem pressa... ele tem a resposta.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Prêmio Dardos



O prêmio possui três regras:
1 - Aceitar exibir a imagem
2 - Linkar o blog do qual recebeu o prêmio
3 - Escolher 15 blogs para entregar o prêmio dardos

Uma breve descrição:
"Com o Prêmio Dardos se reconhece o trabalho que o blogueiro mostra em seu empenho por transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais etc., que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras"

Agradecendo a quem me deu, pela minha admiração, pela minha inspiração, pelo amor compartilhado; e claro! pela escrita maravilhosa:

[Denise Mascarenha, o meu carinho improvisado em palavras]


Agora por onde passo, para buscar inspiração e colher sensções: Eu, a Maria; Estudando Psicologia; ...Bem na Muringa; Alternativo é Eufemismo; Uma mente pulsante; Nessa tela cinza; The Scientist; E agora,Maria?; Caçadora de Mim; Um mundo novo aos corações corajosos; Intelectualismo vulgar; Uma dose de sonho e dois dedos de esperança...

Boas leituras

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Fugaz

O garoto não sabia como ou quando aquele gancho tinha lhe entrado no nariz. Mas até que estava gostando de sensação de dormência que ele causava em toda a sua face. Era um metal frio e mesmo com todos aqueles espirros e fungadas nunca esquentava. Achava ele que tudo era psicológico. Mas como seria isto, se ele podia sentir a ponta arredondada no meio da narina esquerda?

Vez por outra dava-lhe uma coceirinha no septo que ele não sabia ao certo se gostava ou detestava. Sentia a ponta aguda fincada no osso e receava sentir dor caso mexesse muito no já tenro ganchinho.

Seria possível que infeccionasse? Sim. É um corpo estranho em meu corpo. E se infeccionasse e eu perdesse o nariz? Não! Não vou nem pensar nisso... – ele quase se desesperava e levava os pensamentos à outra direção.

Agora vagueava pela ansiedade de um primeiro encontro. Não sabia ao certo se tinha marcado com a garota para a sessão das duas ou das quatro e quarenta. Também não ligaria para perguntar; afinal! que interesse é esse que não o faz lembrar se iram namorar um pouquinho e assistir ao filme ou assistir ao filme e namorar um pouquinho? Bem, no fundo não importa muito a ordem, ele sabia exatamente que namorariam o tempo todo, quer no cinema quer na praça de alimentação e estava feliz por isso.

E se quando estivesse se beijando ela notasse o artefato bem no meio do nariz? Ela não notaria. Só... se fosse... uns beijos daqueles... – ele sabia que os beijos seriam daqueles; ela mexia muito com ele. – Pronto! o encontro vai ser uma porcaria, uma grande piada: a garota mais gata do colégio e um... um... metaleiro com um ferro enfiado no nariz!

É isso! uma áurea de razão circundou aquela mente prenhe de sensações frias – É um piercing! Ela mesmo tem um brinco transverso na orelha direita; o que para qualquer um é um piercing – ele já estava até vendo aonde as conversas levariam eles e como faria para deter alguma delas em coisas que tinham em comum.

O metal esfriou um pouco mais e uma coceira avermelhou a ponta do nariz. Os olhos do garoto preparam-se para o espirro, mas ele não veio. Outra vez tomou fôlego, mas a coceira, agora insuportável, dispersou o ímpeto da expiração em esbravejos e palavras de mau-gosto. O garoto lavou as narinas com água; apenas o cloro queimando-lhe as mucosas. Tentou soro fisiológico; o ouvido destampou (!?!) – foi surpreendente saber que o ouvido estivera obstruído – e o espirro nada!

Resolveu deixar como estava. Agora é assim: se não dá pra mexer é que mexido já está.

[...]

O alarme do telefone toca. Uma e vinte. A sessão é das duas – lembrou – a pressa guiou-o ao banheiro, enquanto a promissora tarde de sábado preparava-lhe mais uma fugaz normalidade.