Era mais uma festa, quer dizer, era a primeira festa daquelas que ele iria; mas não estava ansioso, estava contente. Fora surpreendido na última semana com diversas propostas de pessoas quaisquer, e ainda estava assimilando eventos anteriores. Estava sutilmente diferente, contudo ainda era o mesmo: perdera apenas a pressa. O rio agora corria mansamente e ele permanecia calmo. Permaneceria adulto, puerilmente maduro e des-esperando acontecimentos programados.
Lábios encostavam-se, risos fugiam de conversas etílicas, e ele, com sóbrios olhos infantis engastados numa recente maturescência, assistia às faces andróginas que se mesclavam e ofegavam testosterona entre suspiros. Há certo momento, também ele quis participar do festim (algo se apressara dentro de seu ser) e virilmente agarrou bocas... virilmente sua boca foi agarrada... placidamente estampava-se um sorriso orgulhoso em seu rosto.
Então se deixou surpreender, pela primeira vez desapressadamente, em cenas próprias.
Um olhar fugaz chamou-lhe a atenção; quando este encontrou seu olhar (também fugaz), ambos miraram-se e tornaram-se límpidos. Assim, a cada espiadela, sorrisos convidativos foram se formando e uma alegria foi tomando de conta dos três metros que retardavam o encontro. Vencida a distância, uma apresentação pessoal formalizou o contato. Não havia pressa. O desejo palpitava naqueles olhares e bocas cadenciadamente próximos e finalmente juntos numa fragrante e amadeirada sintonia.
Sem pressa, vigorosos beijos foram se elaborando entre os lábios. Sem pressa, suaves carícias iniciaram a experimentação daqueles corpos. Sem pressa, uma descontraída conversa foi sendo construída e quando perceberam já estavam irremediavelmente envolvidos.
O tempo não passava, mas não havia pressa. Ele já não precisava acelerar as coisas, encaminhar-se-iam naturalmente, fluidamente, nas correntes do rio que já não prendia seu olhar àquele, mas os tornavam livres e desejosamente à procura um do outro.
Ele se deixou experimentar a liberdade em companhia... sem pressa; e descobriu que não há paradoxo em ser livre e estar acompanhado. Alguma coisa lhe pergunta: “seria o amor?”, mas ele não tem pressa... ele tem a resposta.