Maria não sabia o que ocorria, mas já estava antevendo o “é que você é boa demais e não quero fazer você sofrer... blah... blah... blah...” – era sempre assim: entregava-se ao amor com toda delicadeza, coração palpitante de novas emoções e quando menos esperava, dava-se conta que tudo ruía novamente. Outro ciclo concluir-se-á em pouco tempo. E já é chegada a hora de dar mais uma vez adeus. Um aflito, angustiante e necessário adeus.
O que Maria não suportava nisto tudo não era o esmigalhar de uma relação recíproca – por mais que desejasse, (não) nunca houve reciprocidade! – nem ter de recomeçar mais uma vez. Não suportava a ideia de que (estivesse) estivera sozinha numa relação e era o que fatalmente acontecia, quando não estava mais sendo conquistada, quando a brincadeira-de-cativar-o-coração-de-mariazinha acabava. E a brincadeira sempre acabava quando era sua vez de jogar. Que sina!
A garota também se angustiava por, mais uma vez, perceber-se deslocada num mundo onde os brinquedos mais divertidos eram formados nas rasas relações de sentimentos frouxos e que, para ela, não tinham a menor graça. Por isso ela sabia que era exceção, ainda era exceção, e já não sentia necessidade de inclinar-se para espiar o amor cotidiano, sempre aquém de si. Sua índole não lhe permitiria. Entrar no jogo seria desvirtuar o que mais importava em sua vida: o amor. Para esta traição de si não havia disposição.
É só uma pausa, uma cauterização e um beijinho de quando-casar-sara para Maria continuar sua busca sem arrefecer. Afinal, suas disposições formam um manancial do qual brota os mais voláteis e rarefeitos traços de amor. E da mesma maneira que ela o cultiva em suas relações, necessariamente profundas, continuará buscando-o em sua forma mais pura. Basta passar o tempo da cicatrização, Maria voltará à ativa, e ainda uma vez se deixará entrar na brincadeira-de-cativar-o-coração-de-mariazinha, talvez tenha mais sorte.
É assim. Tem de ser assim. De outra forma não poderia usar a denominação “Eu aMaria”!