domingo, 16 de novembro de 2008

O Cabra Francisco

Francisco conseguiu finalmente vender na feira dos bichos sua última cabra, aquela enjeitada que o acompanhava por toda parte e lambia-lhe as costas das mãos após a caminhada matutina da roça para a casa.

A língua áspera roçava-lhe as veias de suas magras mãos e penteava-lhe os pêlos que agora cresciam e tornavam-se abundantes. Ele ria-se e no fim fechava o punho para que ela lhe desse uma marrada. E ia lavar-se antes de comer.

Mais uma vez executado o ritual de preparação para o almoço, ele apanhava o prato e ia sentar-se no tamborete que ficava ao pé do enorme jatobazeiro para comer. Enquanto ela tentava a todo custo enfiar o focinho no baião e dois que a mãe de Francisco preparara na madrugada, antes de ir ao trabalhar em casa de família na cidade.

Francisco lembrou-se destes episódios quando recebia metade do valor que pedira ao comprador. Mas sabia que era a venda ou não ter o que comer durante a semana que começava; e por isto mandou os pensamentos calarem-se ouvindo os roncos de seu estômago. Além do mais, poderia recuperá-la. Era só rezar para que ninguém queira comprar aquela cabrinha magra até a semana que vem.

Era seu engano necessário, pois nunca poderia comprá-la de volta.

2 comentários:

Lizandra disse...

É sempre uma festa quando vejo que vc atualizou o blog.E quando eu leio penso:-uau!, foi o joaca que escreveu isso....oh,mulher de pouca fé!
bjo.

uma indigente disse...

engano necessário... bem conheço estas palavras. Parabéns pelo texto!
Saudades, amigo.