domingo, 1 de março de 2009

Alegoria de vidro em pó

Ultimamente algumas conversas esclarecedoras têm me feito ter algumas idéias. A alegoria que se segue é resultado de uma delas, ocorrida durante certa madrugada em meu quarto, há semana antes do carnaval.

Era apenas uma lâmpada qualquer que estourou após uma carga de maior intensidade. Desesperado, ainda tentei juntar os pedaços com cola... quanta ingenuidade!... Percebi isso logo após ser avidamente cortado.
Talvez por acalentar futuras esperanças... sabe que eu já me apegara àquela lampadazinha qualquer!... os cacos que restaram em guardei em uma caixa escura, assim eu teria a desculpa de não me lembrar o quanto aquela lâmpada me ofuscara durante certo tempo.

Mas mexeram em minha caixa. Sacudiram-na e a atiraram ao chão.

Porque não conseguiria esquecê-la mesmo!... Apanhei-a e a coloquei sobre a cômoda, ao lado do pote de cola; e só por curiosidade abri a tampa para ver como estavam os cacos: menores e em maior quantidade.
Como havia ainda certo espaço dentro da caixa, guardei o pote de cola que eu usei na tentativa de unir o vidro logo após o estouro.

Quando tudo estava calmo e nova luz já brilhava em meu quarto, surgiu a necessidade de uma comemoração. O que fazer? Qual o motivo para uma festa? Sei lá... que tal a lâmpada nova do Joaquim?!!
Então já tinha o lugar e o motivo, os víveres seriam as sobras da festa passada; faltavam as pessoas. Poucas foram chamadas, mas outros apareceram.

No início da tertúlia saí para buscar gelo e distraí-me com os ímãs da geladeira que fixavam meus lembretes:

“Cobre a armação com a seda vermelho-sangue.O vento tá chegando e as outras pipas já estão no céu.”
“Guarda a porra daquela caixa, porque se ela se espatifar de novo no chão, os cacos vão virar pó.”


Foi quando notei que a música tinha parado e os convivas e os outros estavam calados... a caixa! (era um pensamento instantâneo e automático).

Ao abrir a porta, percebi a escuridão do quarto e na penumbra mesmo avistei o pó de vidro espalhado pelo chão, sendo lentamente incorporado à cola que escorria do pote.

(pausa dramática para os pensamentos de um piscar de olhos)
“Eu sabia que deveria ter guardado numa gaveta aquela tralha toda!”
“Por que diabos que esta luz tá apagada? Será que a lâmpada estourou de novo?”
“Cola + pó de vidro + pipa = cerol”


(resoluções sobre pensamentos de um piscar de olhos)
“Posso bem usar esta merda toda que se formou: é só colocar um pouquinho mais de cola e passar na linha, assim nenhuma linha vai tirar minha pipa vermelho-sangue do céu! Além do mais, posso cortar qualquer uma que se aproximar demais”

Então o que eu fiz: acendi a luz; mirei os outros e os convidei a chegarem mais cedo em suas casas. Com ajuda dos poucos que convidei, juntei cuidadosamente a bagunça com um pano úmido e coloquei na mesma caixa. Sai acompanhado por eles, que nem se surpreenderam quando joguei tudo no lixo. Apenas os poucos que convidei sabiam que não valeria à pena cortar os dedos para manter afastadas as outras pipas, assim como não valerá à pena guardar os cacos das futuras lâmpadas quaisquer.

2 comentários:

The Scientist disse...

joaca, tu escreve umas coisas!!!
mais uma vez muito bom!
ah!!! sábia decisão
"não valeria à pena cortar os dedos para manter afastadas as outras pipas, assim como não valerá à pena guardar os cacos das futuras lâmpadas quaisquer."
P.S.: a Denise passou uma brincadeira pra jenice, que passou pra mim, que eu repasso pra ti...
dá uma passada lá no blog e confere!
abraço

Maria disse...

Tua escolha final é o que faz de ti quem és. Amo tua escolha.

^^