sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Quando o coração se divide entre a esperança e a razão

Eles se olharam e já sabiam o que aconteceria. Não eram cúmplices, mas já eram companheiros; de silêncio, de angústia, de suspiros... de suspiros sim, pois a atmosfera que os circundava tornava-se dia após dia impenetrantemente densa.

Olhos falaciosos avizinhavam-se do veículo esperando o desfecho da ação que fora suspensa quando a primeira lágrima rolou por sobre um dos ombros. Mas eles já não estavam na mesma realidade desses olhos curiosos: foram transportados para uma dimensão gelada, onde os segundos passam lentos e o sangue foge das mãos.

As visões embotavam-se enquanto frases curtas eram pronunciadas esporadicamente. Depois foi a vez dos monossílabos e quando as vozes acalentadoras não puderam mais ser ouvidas, assentimentos encerraram a conversa.

Quando mais uma vez o silêncio tomou seu posto entre eles, os lábios tocaram um das mãos (um soluço escapuliu por entre os dedos da outra mão, mas foi abafado pela batida da porta).

Um último olhar.
A atmosfera ainda mais densa.
E um grito agarrado pela garganta não conseguiu sair.

–Pronto! Era o que se precisava ser feito... racionalizava-se mais uma vez na tentativa de calar a esperança.

Ela não se calou. Ruminou, rememorou o episódio, recontou os passos e despediu a interveniência da razão; mais uma vez laureou os sentimentos e seu séquito de emoções acompanhou-a: instalava-se uma desconstrução imediata.

2 comentários:

uma indigente disse...

belíssimo fragmento... Lindo seu cantinho!
Beijos mórbidos.

Maria disse...

...suspiro...

...